É inegável que João Fonseca é o maior talento do tênis brasileiro desde o surgimento de Gustavo Kuerten no final da década de 90. A rápida ascensão do jovem carioca chamou a atenção do mundo todo. Não foi por menos. Logo em seu primeiro Grand Slam como profissional, Fonseca chegou à terceira rodada do Australian Open 2025, tendo eliminado o até então Top-10 Andrey Rublev, em sets diretos, e praticando um tênis de altíssimo nível, em sua melhor atuação como profissional até aqui.
Semanas após a ótima campanha em Melbourne, Fonseca faturou o primeiro título da carreira: o ATP 250 de Buenos Aires, tendo deixado tenistas da casa pelo caminho.
Com um calendário intenso e sem ter tido férias no fim de 2024, o tenista decidiu uma pausa de um mês em março. Tempo para descansar e recarregar as baterias para a temporada europeia de saibro.
Fonseca voltou no Masters 1000 de Madrid na segunda quinzena de abril e venceu na estreia o dinamarquês Elmo Moller, sem sustos, por 2 sets a 0. Na rodada seguinte, ele não foi páreo para o norte-americano Tommy Paul, na época 12º colocado na ATP. Competiu demais contra o experiente rival, mas pecou nos detalhes e caiu em dois tie-breaks.
Na semana seguinte, Fonseca disputou o Challenger de Estoril, mas em atuação irreconhecível perdeu logo na estreia em sets diretos para o holandês Jesper De Jong, que veio do qualificatório.
Sete dias depois, o carioca voltou à terra batida e apresentando os mesmos erros de Portugal não passou da estreia no Masters 1000 de Roma ao ser derrotado em dois sets para o húngaro Fabian Marozsan. Fonseca abusou dos erros não-forçados (foram 38), falhou no saque e foi dominado no primeiro set.
No segundo, ele teve o saque quebrado nos primeiros games, mas não demorou muito para recuperar o serviço. Chegou a ter três break-points para abrir vantagem e encaminhar o empate, porém, voltou a errar demais e saiu derrotado no tie-break, onde chegou a cometer duas duplas faltas seguidas. Em entrevista à ESPN, momento após a partida, Fonseca admitiu que entrou mais nervoso em quadra.
A decepção com os últimos resultados é evidente. As atuações em Estoril e Roma foram bem ruins, bem abaixo do potencial que Fonseca tem. No entanto, oscilações são normais para quem está no início de carreira. Temos que entender que ele é ainda um tenista em formação. Recentemente atingiu a maioridade.
Talvez Fonseca esteja sentido a pressão do público e também da mídia. O tênis brasileiro jamais teve um tenista que gerasse tantas expectativas. Vale lembrar que quando Guga espantou o mundo ao vencer Roland Garros em 1997, poucos conheciam o catarinense até a façanha em Paris.
João optou nesse início de carreira a não trabalhar com psicólogo. Em fevereiro, às vésperas de estrear no ATP 250 de Buenos Aires, ele falou sobre a sua decisão em entrevista coletiva.
“Eu não tenho psicólogo. É uma coisa que já tentei fazer, mas não funcionou, não gostei. Penso sim fazer no futuro, mas agora não quero. Pode ser que faça se necessitar, mas agora não”, afirmou.
Espero que o brasileiro reveja essa decisão e conte com um especialista na área. Isso é muito importante. Vários campeões são gratos aos psicólogos.
As férias entre março e abril podem ter contribuído para a queda de rendimento. O ritmo foi quebrado e Fonseca está penando para recuperar seu melhor tênis.
Após três derrotas seguidas, o atual número 65 do mundo voltará a ação em Roland Garros, a partir do dia 25 de maio. Ele estará na chave principal. É torcer para que nosso melhor tenista brasileiro esqueça as últimas atuações e volte a nos brindar com seu melhor tênis. Talento ele tem de sobra. Resta melhorar a parte mental.
Crédito da foto: Divulgação/ATP 250 de Buenos Aires